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Aí o cara faz parte de uma igreja muito louca liderada por um guru que diz ser o novo Moisés, ter aberto o oceano atlântico com um cajado e saber desde já os nomes que estão no livro da vida, que nem Jesus.

Aí o cara se candidata a prefeito de Jundiaí, e vai de igreja em igreja porque, né, “irmão vota em irmão”. Não se elege.

Mas aí o cara ganha um cargo de secretário de saúde.

E o que o cara faz? Coloca um tipo-pastor (equivalente religioso ao “tipo Net”) para trabalhar como capelão no maior hospital público da cidade, sem concurso público nem nada, RECEBENDO SALÁRIO DA PREFEITURA.

Repetindo devagar: re-ce-ben-do sa-lá-rio da pre-fei-tu-ra.

Aí o jornal descobre e o secretário diz que, não só vai manter o tipo-pastor no cargo como vai dar sala, mesa e computador, “para fazer seus atendimentos espirituais”. Claro, porque tipo-pastor, em vez de estar junto aos feridos, fica no ar condicionado esperando os interessados.

Aí o prefeito exonera o tipo-pastor e começa o jogo de empurra. O secretário diz que pediu indicação a um conselho de pastores. O tipo-pastor diz que foi indicado pelo próprio secretário. Um dos dois está mentindo. Seja como for, alguém indicou o tipo-pastor como tipo-capelão, sendo que ele só faria um curso de capelania depois da indicação.

O salário era de R$ 2500 por mês.

Eu, que não sei de nada, conheço dezena de pessoas sérias, voluntárias, que sabem apascentar e cuidar dos doentes com amor, espiritualidade não-dogmática, sem proselitismo, ofertando em vez de pedir. Talvez o secretário não conheça. Talvez sua comunidade seja daquelas mais preocupadas com o que Deus pode dar para nós do que com aquilo que nós, em nome de Deus, podemos dar aos necessitados. Pobre secretário. Com isso, ele dá razão aos que querem simplesmente acabar com o serviço de capelania nos hospitais brasileiros.

Cada vez mais, acredito, como Peter Hitchens, que o antídoto para a má religião não é a não-religião, é a boa religião.

A tragicomédia toda está no Jornal de Jundiaí.