Por todos esses anos, tenho resistido valentemente à tentação de transformar as redes sociais e meus blogs em divãs abertos ao público. Estou certo de que há mais opinião e mais intimidade exposta na rede do que somos capazes de administrar. Mas, às vezes, questões pessoais levam a períodos longos de reflexão e aprendizado, então peço licença para compartilhar neste espaço as que me pareçam capazes de ajudar o leitor tanto quanto me ajudaram.

Este texto eu traduzi a partir de original publicado no site do grande Donald Miller. O texto foi escrito pelo Al Andrews, fundador executivo do Porter’s Call, um instituto especializado em aconselhamento espiritual para artistas do mundo da música. Tenho lido e refletido muito a respeito de casamento, e acho que Andrews foi imensamente feliz em sua regra única para manter casais unidos:

 

Foto: Sean McGrath/ Creative Commons

Foto: Sean McGrath/ Creative Commons

 

Hoje em dia, como desde há muito tempo, um jovem casal vem até mim para receber aconselhamento pré-nupcial.

Ao longo dos anos, eu venho tentando dar o meu melhor ao falar algumas poucas coisas que possam ser valiosas e interessantes. Eu faço isso com certa relutância, totalmente ciente de que eles estão babando tanto um pelo outro que a chance de eles se lembrarem de qualquer coisa que eu diga é mínima. Normalmente eles estão se afagando e abraçando enquanto pó de pirlimpimpim flutua em torno de suas cabecinhas ingênuas.

É aí que eu entro com o aspirador de pó que existe embaixo do meu sofá.

Eu tento falar um pouco sobre questões que podem surgir na estrada de seu casamento. Nós exploramos suas histórias, suas famílias e a singularidade da educação que cada um recebeu. E finalmente eu conduzo a conversa através do seu entendimento sobre o que é conflito.

É aqui onde a coisa fica interessante. (Insira risada diabólica)

Eu peço a eles que me digam o que aprenderam sobre a arte do conflito baseado no que observaram em suas casas, durante sua infância e adolescência.

É um exercício fascinante, e algumas observações valiosas surgem dali.

Alguns, nunca viram seus pais discutindo.

Outros, viviam no meio da raiva e do caos. Alguns sentiram a tensão velada do comportamento agressivo-passivo, enquanto outros ouviam gritos e pratos quebrados enquanto se escondiam no guarda-roupas. E muitos experimentaram algo entre uma e outra.

Poucos de fato tiveram modelos saudáveis, nos quais eles pudessem testemunhar seus pais contendendo em questões complicadas ao mesmo tempo em que se moviam na direção de resolvê-las.

Ênfase na palavra “poucos” do parágrafo acima, por favor.

Acho que eu poderia escrever um livro a respeito das múltiplas maneiras com que as pessoas discutem e com sugestões sobre como fazê-lo melhor. Mas, lembre-se, nesta situação em particular (com um jovem casal), eles não vão se lembrar de muita coisa.

Então eu digo uma coisa sobre conflito, esperando do fundo da minha alma que ela grude na parede daqueles cérebros alvejados pelas setas do cupido. E o que eu digo é o seguinte:

Se uma discussão cruza a linha da ira em direção ao desprezo, ela precisa parar imediatamente.

Deixe-me explicar.

Discussões e conflitos são, ao mesmo tempo, inevitáveis e necessários em um casamento.

Há momentos em que você tem sentimentos que magoam quem você ama, e há momentos em que o outro faz algo que te deixa maluco. Mágoa e raiva são emoções humanas normais, e é perfeitamente apropriado se comunicar através deles e tentar trabalhar com eles.

No entanto, também há momentos em que você se sente tão raivoso, ou tão encurralado, que você vem à tona chacoalhando palavras destinadas a ferir o outro. É difícil admitir isso, mas há um lado de nós que, quando provocado, pode atacar como um tigre faminto, garras estendidas e dentes à mostra.

Quando você tenta ferir o outro, acontece o que chamamos de DESPREZO.

Desprezo não é uma emoção. É uma decisão. São palavras e frases destinadas a ferir, indo diretamente para a jugular:

 

“Você é um __________!”

“Eu te odeio!”

 

Todo mundo sabe quando essa linha é atravessada.

Você percebe imediatamente, não importa se você é o emissor ou o receptor da frase. E se/quanto você a disser/ouvir, recue imediatamente. Aperte a campainha de pausa na luta e vá para o banquinho do intervalo. Por hora, essa discussão acabou.

Para a parte infratora, esta é a hora de ser humilde.

Não se justifique. Você que deixou o vapor derramar, agora admita sua maldade contra seu cônjuge. Pergunte o quanto você o feriu, e ouça atentamente as suas palavras. Coisas começam a mudar em seu próprio coração quando você vê nos olhos do seu esposo/a as feridas que você fez.

Voltemos ao casal apaixonado em meu sofá. Neste ponto, eles parecem ter visto um fantasma. Tento oferecer algum conforto, e digo a eles que esse negócio de casamento expõe não só a nossa beleza como seres humanos, mas nossa feiúra também.

Eles tipo acreditam em mim.